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“Quanto mais filmes podemos ver, mais vemos os mesmos filmes.” Jean-Michel Frodon
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O realizador Roberto Andò está de volta com um filme sobre a falência moral no mundo altamente secreto das grandes decisões.
Artigo originalmente publicado em SAPO MAG (https://mag.sapo.pt/cinema/atualidade-cinema/artigos/festa-do-cinema-italiano-filme-do-dia-le-confessioni?artigo-completo=sim)
O que um membro do G8 confessaria a um monge?
Em “Viva a Liberdade”, obra que abriu a Festa do Cinema Italiano em 2014, o realizador Roberto Andò desconstruía a imagem pública dos políticos através de uma farsa onde o irmão gémeo de um governante, acabado de sair de um sanatório, o substituía no comando da nação.
Em “Le Confessioni”, que surge em antestreia portuguesa no segundo dia do festival, o cineasta troca o cómico por um tom solene para fantasiar sobre uma reunião entre economistas e políticos do G8.
Nela, um banqueiro do Fundo Monetário Internacional, interpretado por Daniel Auteuil, coloca o mundo altamente secreto das grandes decisões em apuros ao fazer uma confissão a um impávido monge cartuxo (Toni Servillo), “um dos últimos da sua espécie”.
O religioso e o seu voto de silêncio servem para o também argumentista Andò propor uma demonstração da falência moral do universo que retrata, contrastando a sua figura estoica e incorruptível com a ganância e o exercício pragmático do poder pelos muito ricos.
Por outras palavras, a história está ao serviço de uma ideia e a forma como utiliza os recursos dramáticos terminam por empurrá-lo para uma espécie de “suspense moral” (há uma referência explícita a “I Confess”, de Alfred Hitchcock), onde o interesse não está tanto na resolução do mistério mas antes na exposição das ideologias e comportamentos dos muito poderosos – exibidos sobre a capa sinistra da espionagem totalitária.
O tom quase didático pelo qual Andò vai descortinando esse mundo por trás das aparências pode ser por vezes desagradável – até porque a forma escolhida para narrar os acontecimentos não são os da comédia acessível, mas antes um “sorrentiniano” exercício de estilo que pode afastar os “alunos” da sua mensagem.
De qualquer forma e ainda que não de todo credível, dada a dieta radical de acesso a este universo nos media tradicionais, o esforço do realizador não é perdido.
O elenco internacional inclui, além dos citados, outros “habitués” do cinema europeu/alternativo, nomeadamente Maria José-Crozée, Connie Nielsen, Moritz Bleibtreu, Lambert Wilson e Pierfrancesco Favino, entre outros.
Sem dúvida é um filme que me despertou interesse ...