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“Quanto mais filmes podemos ver, mais vemos os mesmos filmes.” Jean-Michel Frodon
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Artigo originalmente postado no Sapo.
Por Roni Nunes
Não seria fácil Júlia Katharine, que tenta contar a sua história diante da câmara de Gustavo Vinagre, lembrar-se de pássaros mais amenos. Ela está a contar a história de um tempo onde não havia definições nem sentimentos de abuso perante o que hoje se qualificaria facilmente como pedofilia. Também nos anos 80 não havia um termo que enquadrasse o mal-estar com o seu corpo e a inevitável ostracismo social.
Além de tragédias fala-se de sexo, ao mesmo tempo que se recriam cenários para referir-se a Yasujiro Ozu. Não é à toa: Júlia Katharine (o último nome é uma referência a Katharine Hepburn) refugiou-se desesperadamente no cinema para conseguir suportar um quotidiano duríssimo.
Gustavo Vinagre, que já circulou em Portugal com uma curta-metragem no IndieLisboa e uma média-metragem no Queer Lisboa, filma estas e outras histórias de forma “ininterrupta” – usando de todos os recursos dinamizadores que se lembra para obedecer os limites que ele próprio se impôs: filmar num único cenário durante uma única noite. Desta conversa, que não exclui o espontâneo, a timidez e o dialogar com o cineasta, Vinagre propôs extrair um relato ao mesmo trágico e transgressor dos muitos tabus que ainda assombram o mundo.
Sem dúvida é um filme que me despertou interesse ...