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“Exploitation” à brasileira: ascensão e queda da Boca do Lixo

por Roni Nunes, Domingo, 09.09.18

Artigo originalmente postado em C7nema.

Roni Nunes & Hugo Gomes

 

Tiago Monteiro l Foto.: Sabrina D. Marques

 

O MOTELx decorre em Lisboa e o cinema brasileiro volta a estar em pauta: neste sábado Morto não Fala, destacado pelo festival como um dos grandes do evento, traz a estreia na direção de Dennison Ramalho, antigo colaborador do mítico Zé do Caixão.

 

O C7nema aproveita a ocasião para uma belíssima conversa com Tiago Monteiro, professor do curso de Produção Cultural do Instituto Federal do Rio de Janeiro, que esteve no festival no ano passado para uma “masterclass” que falava, justamente sobre a preservação da cultura popular e onde se sobressaía a história muito particular da “exploitation” à brasileira.

 

Esta manifestou-se através de uma indústria comercialmente bem-sucedida entre os anos 70 e o início da década de 80, que ficou associada à uma zona degradada do centro de São Paulo, onde circulavam pequenos criminosos e prostitutas, designada por Boca do Lixo. Essa produção, que atingia milhares de espectadores, foi sempre muito mal tratada pela intelectualidade brasileira e só nos últimos anos têm merecido uma reavaliação académica.

 

Em primeiro lugar, porque lhe interessou essa investigação sobre a Boca do Lixo?

 

É uma pergunta curiosa: a minha supervisora no pós-doutoramento, momento onde surgiu essa investigação a partir de uma tese sobre o horror no cinema brasileiro, dizia que se ela estivesse investigando ‘comédia romântica argentina’, por exemplo, ninguém faria a pergunta. As pessoas questionam que tipo de curiosidade leva a alguém a interessar-se por esse tipo de cinema.

 

A Mulher que Inventou o Amor (Jean Garret, 1979)

 

Eu nasci em 1982, numa época na qual o cinema brasileiro começava a atravessar período de crise, que o afasta do seu público e que lega para posteridade o estigma de cinema ruim, de baixa qualidade, que só tem sexo e calão. Tirando os filmes dos Trapalhões, ele não tinha circulação expressiva. Ao mesmo tempo esses filmes da Boca do Lixo, que eu não sabia o que era, passavam na televisão, mas sempre de madrugada, tinham uma aura clandestina. Eles tinham um apelo erótico e eram uma espécie de rito de passagem por serem proibidos pelos pais, eram filmes que eu não podia ver.

 

Depois, quando se estuda mais, uma pessoa começa a separar mais o discurso entre aquilo que o senso comum classifica como ruim e de baixa qualidade e aquilo que tem, logo à partida, um valor histórico apenas por ter sido feito e dizer algum coisa sobre o período no qual isso aconteceu. Aí eu comecei a desenvolver um interesse por esses temas que a historiografia tradicional queria varrer para debaixo do tapete.

 

Esse processo de silenciamento vai por vários lados, ou seja, não só as pessoas não têm conhecimento desse tipo de produção como não existem lançamentos em DVD ou qualquer tentativa de preservação da memória audiovisual dessa produção.

 

Mas não existe, em geral, preservação do cinema brasileiro dos anos 70 e 80 – mesmo no caso das produções da Embrafilme, por exemplo…

 

Sim, mas os da Embrafilme de alguma forma acabam sobreviver um pouco mais ao tempo e alguns chegam ao DVD por força de terem sido produzidos e distribuídos por uma entidade oficial. Era um órgão do governo forte no tempo da ditadura nos anos 70 que não só produzia como também distribuía filmes e supervisionava a exibição … São mais fáceis de se encontrar, não significando que estejam legitimados. O problema é que os produtores da Boca não faziam parte desse grupo da Embrafilme, antes pelo contrário.

 

A imprensa então nem sequer referia esses filmes?

 

A imprensa referia, mas era para falar mal, o que ainda piorava a situação. Havia uma espécie de preconceito. Alguns filmes são tecnicamente muito precários, eu não estou entrando no mérito da qualidade dos filmes. Mas havia um certo discurso, um senso comum, que deslegitimava esses filmes em função da origem e do público para os quais eram destinados.

 

Ou seja, os realizadores eram populares, não tinham formação intelectual, académica, começavam como técnicos e depois iam aprendendo até tornarem-se realizadores. Eles queriam fazer um cinema voltado para um público que vinha do mesmo lugar que eles: as classes populares.

 

Amor, Palavra Prostituta (Carlos Reichenbach, 1982)

 

Então, cada vez que saía um filme da Boca, a imprensa ‘caía em cima’, dizendo que eram grosseiros, mal acabados e atribuindo-lhes o rótulo de pornochanchada – que não se justificava. Tecnicamente, esse é um formato que era inspirado nas comédias eróticas italianas dos anos 60 e não eram “porno”, no máximo “softcore”. Muitos também não eram comédias e havia muitas propostas completamente diferenciadas, mas a repetição deste discurso terminou por levar que fossem invariavelmente rotulados de apelativos e de querer ganhar dinheiro a qualquer custo.

 

Essa é uma ideia bizarra, porque todas as indústrias, como a de Hollywood ou a italiana dos anos 60, querem “ganhar dinheiro a qualquer custo”…

 

Mas acho que em países que como o Brasil a nossa identidade audiovisual para o mundo se fundamentou no conceito de “cinema de autor”. Eu não gosto deste rótulo e desta separação por duas razões: em primeiro lugar fica parecendo que não é possível a perspetiva autoral na indústria e em segundo que cinema de autor ou de arte não tem pretensões comerciais, que não está inserido numa lógica de mercado. O que se tenta fazer hoje em dia é identificar na trajetória de alguns autores da Boca um olhar que pode ser chamado de autoral e que articula outras preocupações que vão além da mera pretensão comercial.

 

Esse rótulo de “pornochanchada” destruiu a ideia de se levar a sério a história do cinema brasileiro…

 

O nome pornochanchada surgiu num momento muito específico para nomear um tipo de comédia urbana erótica calcada na Itália. Eram filmes em episódios com histórias picantes, mas não eram pornográficos. Aliás, o primeiro filme de sexo explícito no Brasil só surge em 1983. Já o termo ‘chanchada’ vinha das comédias produzidas nos anos 40 pela Atlântida. A imprensa começa a recorrer a este termo para nomear todo e qualquer tipo de filme que tinha esse apelo mais popular, independente de ser cómico, o que frequentemente não eram.

O Escorpião Escarlate (Ivan Cardoso, 1990)

 

Há uma declaração do Cláudio Cunha, um realizador da Boca, muito ilustrativa a esse respeito. Ele contava que cada vez que ‘lançava um filme que era um drama vinha a crítica e chamava de ´pornodrama´. Aí eu fazia um filme que se passava no ambiente da ‘disco’ e chamavam de pornodiscoteca. Eu estava tão farto disto que decidi fazer mesmo um filme pornográfico’. Então ele fez Oh! Rebuceteio!(risos). Que, aliás, é ótimo, um filme muito engraçado, muito bem acabado, feito numa época em que as pessoas pensavam que o sexo explícito pudesse render algo mais em termos de arte. É o último filme dele, de 1984.

 

No final dos anos 70 os filmes ficam mais gráficos. No início dos anos 80 começam a aparecer filmes como Império dos Sentidos (Império da Paixão no Brasil) e Calígula e a censura estava no fim. Então o que estava reprimido começa a circular. Eles estreavam no Brasil quando medidas judiciais, quando um advogado dizia que aquilo era ‘arte’ e não se poderia proibir. Então quando se abriu a porta para o primeiro muitos vieram a seguir.

 

Mas aí os exibidores perceberam que estava dando dinheiro e já não queriam apenas “sugestão”, mas sexo explícito mesmo. Entre 1983 e 1984 há uma enxurrada deles. Mas assim como surge também rapidamente se esgota: passada a demanda reprimida, perde-se o interesse. E aí a Boca começa a entrar em crise, pois fica sem ter para onde ir uma vez que, depois de passar cinema pornográfico, você já não consegue voltar a exibir outro tipo de cinema.

 

Quando os “blockbusters” começam a tomar conta do mercado há produtores de baixo orçamento, como Roger Corman, que usaram outras alternativas, como o VHS. Na Boca não se pensou nisto?

 

Não, mas aí eu acho que isso tem a ver com o défice tecnológico do Brasil na época. O VHS entra no país alguns anos depois dos Estados Unidos. De qualquer foi uma série de fatores que dita o fim da Boca – entre as quais o facto do consumo de filmes pornográficos que persistiu ser de filmes americanos. Os exibidores concluíram que era mais barato comprar produtos prontos dos Estados Unidos.

 

Além disto a própria Embrafilme entra em crise – muito também em função de má gestão, de falta de cobrança de resultados aos produtores que recebiam dinheiro

 

Mais tarde os cinemas do centro das grandes cidades começam a fechar, surgem as ’salas multiplex’ e, no início dos anos 90, o presidente Fernando Collor de Mello põe a ‘pá de cal’ na produção audiovisual brasileira – que ficou sem existir durante alguns anos.

Material promocional de Excitação (Jean Garrett, 1976)

 

Esse processo nos anos 80 é mundial, todos os centros de produção entram em crise e Hollywood toma conta de tudo.

 

Carlos Reichenbach (*importante cineasta brasileiro), que também produziu na Boca, tinha uma perspetiva mais alargada sobre isso: ele defendia que o fim da Boca era uma estratégia das ‘majors’, porque os filmes brasileiros, por mais precários que eles fossem, atraíam o público. E muitas vezes ganhavam dos filmes americanos em termos de bilheteira.

 

Entre 1975 e 1982, por exemplo, é comum encontrar obras que levavam entre 3 e 5 milhões de espectadores às salas. Hoje em dia é muito raro um filme nacional atingir esses valores – a maioria dos bem-sucedidos fica em torno de 100 mil. Era uma quantidade de público muito expressiva.

 

Há um movimento académico, mais crítico, tentando resgatar essa produção no Brasil?

 

Acho que sim, está em sintonia com o que tem acontecido por aí. A própria questão de haver uma produção académica sobre terror já é relevante. Há pessoas que cresceram vendo esse tipo de filme que eventualmente chegaram à Academia, que é um lugar legitimado, e começam a olhar e a dizer: ‘mas por que eu tenho que só discutir o Glauber Rocha e o Manoel de Oliveira’? Esses filmes também existiram, eles têm sentido histórico – independente da questão da qualidade. Existe um esforço das novas gerações de investigadores de legitimar teoricamente essa produção.

 

O que eu acho que falta mais nesse momento é uma preocupação não só com o armazenar o espólio, como com investimento na restauração, possibilitando que ele circule e seja preservado. Os negativos vão se perder e se não houver um pensamento no sentido de digitalizar, produzir versões melhoradas, tudo o que vai restar são as cópias em muito mau estado que por vezes se encontram por aí. Não sou contra que se ganha dinheiro com isso, mas que se ganha corretamente e não simplesmente comercializando produtos sem qualidade alguma.

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por Roni Nunes às 19:00

MOTELx: “nós adoramos monstros, demónios e o mal”- Andy Nyman e Jeremy Dyson

por Roni Nunes, Sábado, 08.09.18

Artigo originalmente postado em C7nema. 

 

Ghost Stories, que será exibido no sábado (08/09) no âmbito da edição em curso do Motelx, recupera as narrativas episódicas do cinema inglês – na tradição dos “portmanteaus” de clássicos comoDead of Night e as histórias da Amicus dos anos 60.

 

Realizado por Andy Nyman e Jeremy Dyson a partir de uma peça de sucesso encenada por eles próprios, envereda pelas tradicionais histórias de fantasmas pelas quais as ilhas são pródigas desde o final do século XVIII e traz o “hobbit” Martin Freeman como um dos protagonistas.

 

O filme, eventualmente um dos mais fortes candidatos ao prémio do público do festival, gira em torno de uma investigação promovida por um especialista em desmitificar fenómenos paranormais (Andy Nyman) que tem pela frente três casos “insolúveis” para tentar resolver.

 

Nyman, que estará no cinema São Jorge para uma “masterclass” depois do filme, falou com o C7nema e esclareceu, entre outras coisas, questões cruciais como por que os ingleses gostam de “assustarem-se uns aos outros”...

 

Existe um aspeto tradicional nas histórias de fantasmas que também abordam no filme que relaciona os fantasmas com uma dimensão moral, uma expiação do passado.

 

Certamente. Um dos aspetos das histórias de fantasmas que nos fascinava é sua moralidade, que é profundamente judaico-cristã. Um dos erros frequentes que as pessoas que não gostam de histórias de terror cometem é pensarem que elas são guiadas pela subversão, por noções destrutivas. Na realidade a maior parte delas traz uma posição profundamente moral. Se você peca, você paga – e um preço bem alto.

 

 

Diferentes personagens no filme põe a questão de que o “cérebro vê o que ele quer”. Isso significa que vocês preferem uma abordagem psicológica em vez de uma sobrenatural?

 

Bom, isso é uma questão complexa. No caso dos personagens de Ghost Stories a rota é, de facto, uma abordagem psicológica. Mas outras histórias trazem diferentes versões. Nós adoramos a ideia de monstros, demónios e do mal. Vendo como eles enquadram o nosso trabalho é um forte impulso e nós queríamos explorá-lo. Monstros irreais num mundo real: é delicioso!

 

Em termos visuais vocês trazem elementos mais contemporâneos, como o uso de objetos inanimados e monstros como manifestações de terror. Como vocês conceberam essa parte?

 

Nós sabíamos que queríamos contar uma história clássica. Muitas das nossas influências vêm de daí. Nós estávamos mais interessados em criar um tipo de medo que vai aos poucos tomando conta e não deixa o espectador escapar. Neste sentido, deste o primeiro frame nós o informamos de que alguma coisa está profundamente errado!

 

O cinema inglês tem a tradição dos portmanteaus, conforme iniciada com Dead of Night e particularmente explorada pela Amicus. Esse tipo de estrutura estava presente na peça ou vocês escolheram especialmente para o filme?

 

A peça de Ghost Stories seguia uma estrutura similar – três histórias que eram contadas individualmente mas estavam inextricavelmente ligadas. Nós adoramos a herança britânica dos “portmanteaus” e “Dead of Night” é de longe o melhor e serviu de guia para nós. Ele funciona tão bem porque os protagonistas da história são muito fortes. A ligação entre as histórias não são apenas um artifício, ela tem um papel importante.

 

Os ingleses sempre adoraram e difundiram pelo mundo histórias de fantasmas. Por que você acha que isso acontece? 

 

É estranho, não? Essa nossa herança fantasmagórica… Talvez isso venha da história pagã do nosso país. Uma coisa que nós esquecemos no mundo globalizado dos nossos dias, onde estamos tão conectados, é que a Inglaterra é apenas uma pequena ilha, apartada de todo o mundo… e chove imenso! Claro que então nós gostamos de assustarmos uns aos outros!

 

Como foi a entrada de Martin Freeman no projeto?

 

Nós sabíamos que para o papel precisaríamos uma estrela com um perfil internacional, mas também teria de ser britânico e um ator com que fosse bom em drama e comédia. Martin foi o primeiro nome que nós pensamos. Eu tinha trabalhado com ele num filme chamado ‘The Eichiman Show’ e sabia o quão brilhante ele era. Nós enviamos o argumento ao seu agente e felizmente ele adorou e entrou no projeto. A sua performance é simplesmente incrível.

 

Vocês têm novos projetos?

 

Jeremy e eu estamos a trabalhar no nosso próximo argumento, que é muito excitante. Eu também filmei alguns projetos que serão lançados no próximo ano – como uma série da BBC com a Netflix chamadaWanderlust, com Toni Colette, e outra da Amazon, Hanna, e o novo da Renée Zellweger sobre a Judy Garland, Judy, e por fim, um papel num filme da Disney, Jungle Cruise. Têm sido uns tempos ocupados…

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por Roni Nunes às 17:21

Motelx: “Extirpar a sexualidade das mulheres sempre foi o alvo da caça às bruxas”, diz Lukas Feigelfeld

por Roni Nunes, Quarta-feira, 05.09.18

 

Artigo originalmente postado em C7nema.

Por Roni Nunes

 

Hagazussa – A Heathen's Curse é exibido na próxima quinta-feira no âmbito da Competição do Motelx e o C7nema conversou com o realizador austríaco Lukas Feigelfeld sobre este imponente registo passado nos Alpes, tendo como pano de fundo histórico um tempo em que bruxas eram queimadas e "goblins" assombravam as montanhas...

 

O filme conta a história de Albrun (Aleksandra Cwen na versão adulta), que vive num lugar remoto dos Alpes austríacos. Por alguma razão ela herda da mãe o "carimbo" de bruxa ("hagazussa" é uma palavra germânica antiga para designar a palavra) e é ostracizada pela comunidade próxima. Vivendo com seu bebé quase em completa solidão, inserida num vasto cenário magnificamente filmado por Feigelfeld, cuja formação inicial veio da fotografia, ela experimenta terrores reais ou imaginados enquanto sente lentamente o seu mundo mental ruir.

 

Hagazussa é a primeira longa-metragem do cineasta, que cresceu na região que retrata mas realizou seus estudos de cinema na Alemanha. Sua média-metragem Interferenz passava-se no mar, onde o tema da solidão já era uma das suas premissas essenciais. Este projeto, que teve uma montagem financeira tão difícil quanto as suas filmagens em meio as intempéries imprevisíveis das montanhas, chega a Portugal depois de um sólido trajeto no circuito dos festivais – começando por Sitges. Não há previsão de estreia por cá e, portanto... só no Motelx!

 

 

Sempre houve uma conexão implícita entre a sexualidade feminina e a bruxaria, algo que você também explorou no seu filme...

 

As mulheres acusadas de bruxaria na Idade Média eram principalmente crentes em religiões naturais ou no paganismo, tinham uma mente mais aberta, viviam mais apartadas da sociedade ou simplesmente não eram cristãs que se restringiam ao código moral da igreja católica. Naturalmente que as perseguições estavam conectadas com experiências de liberdade sexual e, no caso das mulheres, manifestações de qualquer tipo de sexualidade eram consideradas erradas, pervertidas ou próprias de bruxas. Extirpar a sexualidade das mulheres era um alvo primordial dos seus perseguidores nestes tempos.

 

Muitas vezes as mulheres eram acusadas de ter relações com o diabo e queimadas por isso. Essas acusações vinham muitas vezes de vizinhos que viam-nas tendo sexo com um "diabo invisível", o que significava, essencialmente, que estavam se masturbando. Então a história era distorcida e ela era queimada. Explorar esses temas e os elementos essenciais da caça às bruxas era muito importante para criar a personagem de Albrun.

 

Você gosta de explorar nos seus filmes temas como o da solidão. Por que esse assunto parece fasciná-lo?

 

Eu sou fascinado pela vida interior das pessoas. Há tanto por explorar. A solidão, especialmente em casos extremos, pode favorecer nos humanos o surgimento de características mentais muitas estranhas ou particulares.

 

No caso de Hagazussa, elas são importantes para o desenvolvimento da psicose da protagonista. A forma como ela é confrontado com o "mundo humano", a sociedade da aldeia, sua crueldade e falsidade, é crucial para fazer com que, de alguma forma, ela se torne a bruxa que todos dizem que ela é.

 

No meu novo projeto, ainda em fase de escrita, os personagens principais também vão viver algum tipo de solidão, embora desta vez minha ideia seja explorar o tema situando-os numa cidade grande e povoada.

 

 

Existe uma tradição literária, vinda de Ann Radcliffe e das irmãs Bronte, onde a mulher é o centro da história e os seus dilemas interiores estão interligados com o ambiente natural. No caso do cinema, Val Lewton e Jacques Tourneur exploravam essa conexão nos anos 40. Você teve alguma dessas referências em mente quando desenvolveu o projeto ou apenas pensou em artistas mais recentes?

 

Eu não fui necessária e diretamente inspirado por essas fontes, mas também não por artistas mais recentes. A inspiração para desenhar a personagem de Albrun veio mais do contexto histórico e místico do local ela se encontra.

 

Depois de perceber o quanto isso tudo esta interligado, não apenas a superstição e as tradições desta área dos Alpes, mas também a luta e o sofrimento das mulheres, eu tente encontrar um entendimento sobre como uma pessoa como ela deve ter sido – alguém com uma capacidade de cometer uma to horrível, mas sofrendo de paranoia psicótica num tempo em que se acreditava que fantasmas e "goblins" perambulavam pelas florestas à noite...

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por Roni Nunes às 21:17


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  • Cleber Nunes

    Sem dúvida é um filme que me despertou interesse ...



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