Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Maio 2019

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031


Pesquisar

 


Paulo Sacramento: "Não podemos aceitar as perdas civilizatórias em curso no Brasil"

por Roni Nunes, Quinta-feira, 16.05.19

Artigo originalmente postado em C7nema. 

 

 

 

O cineasta vê similaridades entre o que se passa no Brasil e a narrativa do seu filme, O Olho e a Faca. O filme está em Competição no FESTin e é exibido na próxima quinta-feira no Cinema City Alvalade (Av. Roma, 100). Em entrevista ao C7nema, falou sobre a complexidade das filmagens, as vicissitudes do seu protagonista e o dramático momento da política brasileira – afirmando que não se pode "...aceitar passivamente as perdas civilizatórias que estão em curso atualmente no Brasil".

 

Com um forte sentido de exploração do espaço, O Olho e a Facapromove um inédito "passeio" dramático por uma estação petrolífera. É onde se desencadeia o drama de um protagonista (vivido por Rodrigo Lombardi) que, depois de uma promoção, começa a ver os fios da sua vida "ideal" ruir. Estes afetam os seus laços de camaradagem no trabalho e os conflitos da vida doméstica quando está "em terra".

 

É a segunda longa-metragem de ficção do cineasta, cujo primeiro trabalho, Riocorrente, foi selecionada para o Festival de Roterdão, e O Homem da Grade de Ferro, documentário de 2003, venceu dois prémios no Festival de Tribeca.

 

Há momentos em O Olho e a Faca que sugerem um registo quase documental sobre uma estação petrolífera. De onde veio o interesse por esse cenário/ambiente?

 

Desde o início do projeto eu buscava um ambiente de grande impacto visual, que traduzisse o resultado positivo do esforço racional e pragmático do homem em seu trabalho. Encontrei na plataforma de petróleo um lugar ideal, que pude trabalhar como um microcosmo: um lugar ao mesmo tempo muito diferente e específico, mas onde transcorre um drama passível de ocorrer a qualquer homem comum. A plataforma é dessa maneira um pano de fundo luxuoso para a história de nosso personagem, mas que acrescenta ao filme camadas simbólicas e visuais de muita importância.

 

 

O filme regista alguns belos movimentos de câmera que envolvem uma circulação pela plataforma. Como foi a montagem visual destas cenas?

 

Filmar na plataforma foi um enorme desafio porque existem dezenas de regras de segurança que não podem ser quebradas sob nenhuma hipótese. A própria presença de uma equipe de filmagem em um ambiente desses, com a produção de petróleo em pleno funcionamento, é inusitada e quiça inédita. Eu sabia que pelas próprias limitações técnicas o tom dessa parte do filme seria diferente das filmagens realizadas em terra, mas não queria optar por algo óbvio como por exemplo uma câmera balançando nas mãos do operador. Ao contrário, decidi levar um Steadicam para lá que ficou todo o tempo conosco (obrigado ao grande operador Eric Catelan). Isso nos permitiu "deslizar" com a câmera livremente por toda a plataforma e passar a sensação ao espectador de fazer parte daquele cotidiano, sentindo a própria respiração da plataforma como algo normal e familiar.

 

Um dos temas que marcam o conflito no filme é o forte sentido de coletividade num grupo laboral – no caso específico o de uma plataforma petrolífera.

 

Sim, foi muito importante primeiro construir um grupo com forte laços de amizade e confiança entre si para depois romper esses laços e criar o sentimento de abandono e solidão do personagem principal. Tratava-se de ter um material sólido para desconstruir, e nesse sentido a relação de trabalho e interdependência dos petroleiros veio muito a calhar para nossa história.

 

O outro conflito envolve a personalidade do protagonista, que você vai mostrando como alguém que está sempre a adiar as decisões até que tudo começa a desmoronar...

 

Exato, trata-se de uma personagem que acredita que as coisas vão se resolver por si mesmas, que a estabilidade é o estado por excelência das coisas e que o equilíbrio se restabelece naturalmente com o tempo. Mas sua inoperância, ou melhor, sua incapacidade de agir leva-o cada vez mais a um beco sem saída. O filme narra a dificuldade dessa personagem de enxergar a derrocada de seu mundo ideal, derrocada que se dá a partir de uma notícia aparentemente boa: uma promoção em seu trabalho.

 

Já tem novos projetos?

 

O Olho e a Faca foi um projeto que demandou um esforço muito grande para ser realizado, sete anos. Nesse período o Brasil se transformou e a própria atividade cinematográfica hoje se vê em xeque frente a um futuro de pouco ou nenhum investimento estatal na esfera federal. É um momento de cautela e reflexão, de compreender nosso papel nesta nova ordem e de como reconstruir nossa trajetória. Vejo em meu país uma similaridade simbólica muito grande com a narrativa do próprio filme. Precisamos todos abrir nossos olhos, olhar e compreender o que se passa, e não apenas aceitar passivamente as perdas civilizatórias que estão em curso atualmente no Brasil.

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Roni Nunes às 00:36


Comentários recentes

  • Cleber Nunes

    Sem dúvida é um filme que me despertou interesse ...



Posts mais comentados




subscrever feeds