Um estado de tragédia permanente muito italiano (ou, pelo menos, do sul da Itália) ganha contornos universais em “La Guerra dei Cafoni”. Os realizadores Davide Barletti e Lorenzo Conte recorrem ao artifício de uma história composta só por crianças para propor um comentário/fábula sobre o mundo adulto.

 

O âmbito temático é o do confronto de classes: todos os anos, no verão, um grupo de crianças e pré-adolescentes entram em “guerra” uns contra os outros. De um lado está uma comunidade bem vestida de “betinhos”, refugiados num “castelo” que culmina no alto de paisagens verdejantes. Na terra seca, amarelada, poeirenta, vivem os “cafoni” do título – essencialmente garotos a viver no meio da miséria e da iliteracia.

 

A hipótese pessimista proposta pelos cineastas de uma redenção da “choldra” vem mais de um protótipo de criminoso ambicioso que rompe na metade da história do que de um idealista “revolucionário”.

 

As mulheres são objetos de diferentes significações: a rica é bonita, sensual e fútil (Alice Azzariti) e serve como símbolo de ostentação; a pobre (Letizia Pia Cartolaro) entra no campo do romance. O que não muda é que ambas são valiosos “bens” a serem disputados.

 

A sequência de abertura (uma criança morta por “nobres” de uma era “ancestral” não especificada quando tentava “roubar” água para beber) é desconectada do enredo: serve para estabelecer o eixo temático do filme. Através de um balança simples de dicotomias (figurinos, paisagens, modos de falar), Barletti e Conte manifestam a eternização da opressão entre os seres humanos.