Entre as muitas histórias de ascensão e queda do Império do Hedonismo que invadiu a cultura ocidental a partir dos anos 70, a de "Studio 54" é das mais emblemáticas. Com os grandes ideais dos anos 60 em queda livre, preparando o terreno para o "prazer pelo prazer" dos anos 80, os anos 70 viram as utopias naufragarem no mar do diversão eterna. Num local específico, em Nova Iorque, esse Império teve um símbolo: o Studio 54.

 

A discoteca criada a partir de um velho teatro num lugar da cidade que, segundo um testemunho, era "o local ideal para ser assaltado", podia ter sido qualquer outro empreendimento comercial de Steve Rubell e Ian Schrager, que não tinham como sonho especial investir na área do entretenimento noturno. Uma vez a oportunidade surgida, foram apenas 33 meses apoteóticos de um símbolo de extravagâncias, muito cocaína, celebridades, multidões barradas do lado de fora, notícias de primeira página na imprensa e, claro, "disco music".

 

Schrager é quem conta essa história, uma vez que Rubell morreu em 1989 vítima de complicações decorrentes da SIDA. Os testemunhos daqueles que conseguiam lá entrar recordam uma apoteose de diversidade, um raro lugar onde os homossexuais se podiam manifestar e de convivência entre ricos e pobres (ser famoso não era o único critério para permitir a entrada) e celebridades e ilustres desconhecidos.

 

A assombrosa ascensão da dupla, que mostra talento empresarial e um enorme sentido de exposição pública de um lado, explica por outro o despreparo para lidar com o sucesso. O melhor exemplo é o absurdo do livro de contabilidade da empresa... onde até estava descrito o montante que devia ser desviado das Finanças! Este último viria ser a peça-chave de uma queda incontornável – parecendo arrastar consigo uma época de libertação que cederia espaço ao conservadorismo da era de Ronald Reagan.