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Numa Itália destruída, gémeas siamesas cantam...

por Roni Nunes, Sábado, 15.04.17

Artigo originalmente postado em http://mag.sapo.pt/cinema/atualidade-cinema/artigos/festa-do-cinema-italiano-filme-do-dia-indivisibili

 

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No penúltimo dia da Festa do Cinema Italiano ainda há tempo para um filme surpreendente, onde irmãs siamesas exploradas pelo pai cantam alegres sobre as ruínas de um Itália irreconhecível.

 

Ao lado de obras como “La Ragazza del Mondo” e “Fiore”, outra das sensações “indie” do ano passado em Itália foi "Indivisibili" – recebendo o batismo protocolar no Festival de Veneza, seguindo depois para o de Toronto, e terminar recebendo as nomeações aos prémios mais 'mainstream' dos David di Donatello, os 'Óscares italianos'.

 

O realizador Edoardo de Angelis fez um filme sobre gémeas siamesas. Do escandaloso “Monstros”, de Tod Browning, onde o cineasta foi buscar o nome das suas protagonistas, ao mórbido “Homem-Elefante”, de David Lynch, o lugar das pessoas com deficiências “bizarras” é o circo – e o seu destino é a exploração por empresários muito pouco interessados na sua sorte.

 

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Aqui, Viola e Dasy (as irmãs Angela e Marianna Fontana, impressionantes) são cantoras. Movimentando-se pelas ruínas de um sul italiano destroçado, elas não se queixam muito da sua situação: fazem espetáculos alegres aqui e acolá, ganham dinheiro – que não chegam a receber, mas vai para o banco… – e aturam-se razoavelmente. Até que um médico lhes diz que há procedimentos para as separar.

 

A revelação lança o caos na família – até porque o pai (Massimiliano Rossi), que ganha dinheiro com elas, não está nada interessado em ajudá-las.

 

O belo e o repulsivo

 

Numa entrevista por alturas de Veneza, em agosto de 2016, o cineasta disse ao Cineuropa que o que lhe fascinava era encontrar o equilíbrio entre atração e repulsa. Tanto que só depois de pensar em quanto as siamesas do clássico de Browning eram belas, se imaginou a rodar a história de 'monstros' que lhe tinha sido apresentada.

 

O enredo permitia ainda outro simbolismo, bastante evidente no filme: os cortes dolorosos (fisicamente, neste caso) que um adolescente tem de fazer em termos de laços afetivos para passar à vida adulta.

 

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Passou-se outro bom período de tempo até se resolver o maior dos problemas: encontrar as atrizes. Depois de testes infindáveis, de Angelis ficou impressionado com as irmãs (não siamesas, bem esclarecido) Angela e Marianna Fontana, encontradas nos confins de Caserta, uma província do sul muito conhecida pelo domínio local dos capos/mafiosos Cavalesi. Um ano depois, o realizador voltou para as trazer.

 

Uma vez que o desejo era pelo mais completo realismo, não houve nada de efeitos digitais: as atrizes usaram mesmo uma prótese artesanal – que lhes podia roubar 15 horas do dia, cinco para maquilhagem e dez para a rodagem. Mais que isso, ainda passaram alguns meses a conviver para escobrir o que era ter de partilhar a mais completa intimidade com outra pessoa.

 

A exuberância da prestação garante por si o preço do bilhete.

 

Cartão de visitas

 

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As irmãs são belas, o cenário nem por isso – e a sequência inicial (foto acima) é o cartão de visitas para a 'atração e repulsa' pretendidas: partindo de uma praia cheia de entulhos, um longuíssimo 'travelling' segue três prostitutas pela localidade, sem qualquer relação com a história. A apresentação está feita – antes das gémeas entrarem em cena.

 

Esta Itália decadente e pouco reconhecível a quem associar o país a Veneza ou Florença, é representada por Castel Volturno, um local que já foi sede de turismo de luxo e hoje parece uma cidade bombardeada.

 

Além da paisagem, só interrompida pela quase onírica sequência do navio, também à música foi concedido um cuidado especial. Somadas as peças da equação, o resultado ficou mais belo que repulsivo.

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por Roni Nunes às 13:09

1 comentário

De Cleber Nunes a 15.04.2017 às 14:59

Sem dúvida é um filme que me despertou interesse em assistir. As relações familiares colocadas em cheque pelo sistema do capital que nos assombra. Um lado da moeda punk e que de alguma forma está presente no cotidiano de muitas famílias, claro que de outras formas que não irmãsirmãs siameses.

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  • Cleber Nunes

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