Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


Mais sobre mim

foto do autor


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Maio 2019

D S T Q Q S S
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031


Pesquisar

 


MOTELx: “nós adoramos monstros, demónios e o mal”- Andy Nyman e Jeremy Dyson

por Roni Nunes, Sábado, 08.09.18

Artigo originalmente postado em C7nema. 

 

Ghost Stories, que será exibido no sábado (08/09) no âmbito da edição em curso do Motelx, recupera as narrativas episódicas do cinema inglês – na tradição dos “portmanteaus” de clássicos comoDead of Night e as histórias da Amicus dos anos 60.

 

Realizado por Andy Nyman e Jeremy Dyson a partir de uma peça de sucesso encenada por eles próprios, envereda pelas tradicionais histórias de fantasmas pelas quais as ilhas são pródigas desde o final do século XVIII e traz o “hobbit” Martin Freeman como um dos protagonistas.

 

O filme, eventualmente um dos mais fortes candidatos ao prémio do público do festival, gira em torno de uma investigação promovida por um especialista em desmitificar fenómenos paranormais (Andy Nyman) que tem pela frente três casos “insolúveis” para tentar resolver.

 

Nyman, que estará no cinema São Jorge para uma “masterclass” depois do filme, falou com o C7nema e esclareceu, entre outras coisas, questões cruciais como por que os ingleses gostam de “assustarem-se uns aos outros”...

 

Existe um aspeto tradicional nas histórias de fantasmas que também abordam no filme que relaciona os fantasmas com uma dimensão moral, uma expiação do passado.

 

Certamente. Um dos aspetos das histórias de fantasmas que nos fascinava é sua moralidade, que é profundamente judaico-cristã. Um dos erros frequentes que as pessoas que não gostam de histórias de terror cometem é pensarem que elas são guiadas pela subversão, por noções destrutivas. Na realidade a maior parte delas traz uma posição profundamente moral. Se você peca, você paga – e um preço bem alto.

 

 

Diferentes personagens no filme põe a questão de que o “cérebro vê o que ele quer”. Isso significa que vocês preferem uma abordagem psicológica em vez de uma sobrenatural?

 

Bom, isso é uma questão complexa. No caso dos personagens de Ghost Stories a rota é, de facto, uma abordagem psicológica. Mas outras histórias trazem diferentes versões. Nós adoramos a ideia de monstros, demónios e do mal. Vendo como eles enquadram o nosso trabalho é um forte impulso e nós queríamos explorá-lo. Monstros irreais num mundo real: é delicioso!

 

Em termos visuais vocês trazem elementos mais contemporâneos, como o uso de objetos inanimados e monstros como manifestações de terror. Como vocês conceberam essa parte?

 

Nós sabíamos que queríamos contar uma história clássica. Muitas das nossas influências vêm de daí. Nós estávamos mais interessados em criar um tipo de medo que vai aos poucos tomando conta e não deixa o espectador escapar. Neste sentido, deste o primeiro frame nós o informamos de que alguma coisa está profundamente errado!

 

O cinema inglês tem a tradição dos portmanteaus, conforme iniciada com Dead of Night e particularmente explorada pela Amicus. Esse tipo de estrutura estava presente na peça ou vocês escolheram especialmente para o filme?

 

A peça de Ghost Stories seguia uma estrutura similar – três histórias que eram contadas individualmente mas estavam inextricavelmente ligadas. Nós adoramos a herança britânica dos “portmanteaus” e “Dead of Night” é de longe o melhor e serviu de guia para nós. Ele funciona tão bem porque os protagonistas da história são muito fortes. A ligação entre as histórias não são apenas um artifício, ela tem um papel importante.

 

Os ingleses sempre adoraram e difundiram pelo mundo histórias de fantasmas. Por que você acha que isso acontece? 

 

É estranho, não? Essa nossa herança fantasmagórica… Talvez isso venha da história pagã do nosso país. Uma coisa que nós esquecemos no mundo globalizado dos nossos dias, onde estamos tão conectados, é que a Inglaterra é apenas uma pequena ilha, apartada de todo o mundo… e chove imenso! Claro que então nós gostamos de assustarmos uns aos outros!

 

Como foi a entrada de Martin Freeman no projeto?

 

Nós sabíamos que para o papel precisaríamos uma estrela com um perfil internacional, mas também teria de ser britânico e um ator com que fosse bom em drama e comédia. Martin foi o primeiro nome que nós pensamos. Eu tinha trabalhado com ele num filme chamado ‘The Eichiman Show’ e sabia o quão brilhante ele era. Nós enviamos o argumento ao seu agente e felizmente ele adorou e entrou no projeto. A sua performance é simplesmente incrível.

 

Vocês têm novos projetos?

 

Jeremy e eu estamos a trabalhar no nosso próximo argumento, que é muito excitante. Eu também filmei alguns projetos que serão lançados no próximo ano – como uma série da BBC com a Netflix chamadaWanderlust, com Toni Colette, e outra da Amazon, Hanna, e o novo da Renée Zellweger sobre a Judy Garland, Judy, e por fim, um papel num filme da Disney, Jungle Cruise. Têm sido uns tempos ocupados…

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Roni Nunes às 17:21

Motelx: “Extirpar a sexualidade das mulheres sempre foi o alvo da caça às bruxas”, diz Lukas Feigelfeld

por Roni Nunes, Quarta-feira, 05.09.18

 

Artigo originalmente postado em C7nema.

Por Roni Nunes

 

Hagazussa – A Heathen's Curse é exibido na próxima quinta-feira no âmbito da Competição do Motelx e o C7nema conversou com o realizador austríaco Lukas Feigelfeld sobre este imponente registo passado nos Alpes, tendo como pano de fundo histórico um tempo em que bruxas eram queimadas e "goblins" assombravam as montanhas...

 

O filme conta a história de Albrun (Aleksandra Cwen na versão adulta), que vive num lugar remoto dos Alpes austríacos. Por alguma razão ela herda da mãe o "carimbo" de bruxa ("hagazussa" é uma palavra germânica antiga para designar a palavra) e é ostracizada pela comunidade próxima. Vivendo com seu bebé quase em completa solidão, inserida num vasto cenário magnificamente filmado por Feigelfeld, cuja formação inicial veio da fotografia, ela experimenta terrores reais ou imaginados enquanto sente lentamente o seu mundo mental ruir.

 

Hagazussa é a primeira longa-metragem do cineasta, que cresceu na região que retrata mas realizou seus estudos de cinema na Alemanha. Sua média-metragem Interferenz passava-se no mar, onde o tema da solidão já era uma das suas premissas essenciais. Este projeto, que teve uma montagem financeira tão difícil quanto as suas filmagens em meio as intempéries imprevisíveis das montanhas, chega a Portugal depois de um sólido trajeto no circuito dos festivais – começando por Sitges. Não há previsão de estreia por cá e, portanto... só no Motelx!

 

 

Sempre houve uma conexão implícita entre a sexualidade feminina e a bruxaria, algo que você também explorou no seu filme...

 

As mulheres acusadas de bruxaria na Idade Média eram principalmente crentes em religiões naturais ou no paganismo, tinham uma mente mais aberta, viviam mais apartadas da sociedade ou simplesmente não eram cristãs que se restringiam ao código moral da igreja católica. Naturalmente que as perseguições estavam conectadas com experiências de liberdade sexual e, no caso das mulheres, manifestações de qualquer tipo de sexualidade eram consideradas erradas, pervertidas ou próprias de bruxas. Extirpar a sexualidade das mulheres era um alvo primordial dos seus perseguidores nestes tempos.

 

Muitas vezes as mulheres eram acusadas de ter relações com o diabo e queimadas por isso. Essas acusações vinham muitas vezes de vizinhos que viam-nas tendo sexo com um "diabo invisível", o que significava, essencialmente, que estavam se masturbando. Então a história era distorcida e ela era queimada. Explorar esses temas e os elementos essenciais da caça às bruxas era muito importante para criar a personagem de Albrun.

 

Você gosta de explorar nos seus filmes temas como o da solidão. Por que esse assunto parece fasciná-lo?

 

Eu sou fascinado pela vida interior das pessoas. Há tanto por explorar. A solidão, especialmente em casos extremos, pode favorecer nos humanos o surgimento de características mentais muitas estranhas ou particulares.

 

No caso de Hagazussa, elas são importantes para o desenvolvimento da psicose da protagonista. A forma como ela é confrontado com o "mundo humano", a sociedade da aldeia, sua crueldade e falsidade, é crucial para fazer com que, de alguma forma, ela se torne a bruxa que todos dizem que ela é.

 

No meu novo projeto, ainda em fase de escrita, os personagens principais também vão viver algum tipo de solidão, embora desta vez minha ideia seja explorar o tema situando-os numa cidade grande e povoada.

 

 

Existe uma tradição literária, vinda de Ann Radcliffe e das irmãs Bronte, onde a mulher é o centro da história e os seus dilemas interiores estão interligados com o ambiente natural. No caso do cinema, Val Lewton e Jacques Tourneur exploravam essa conexão nos anos 40. Você teve alguma dessas referências em mente quando desenvolveu o projeto ou apenas pensou em artistas mais recentes?

 

Eu não fui necessária e diretamente inspirado por essas fontes, mas também não por artistas mais recentes. A inspiração para desenhar a personagem de Albrun veio mais do contexto histórico e místico do local ela se encontra.

 

Depois de perceber o quanto isso tudo esta interligado, não apenas a superstição e as tradições desta área dos Alpes, mas também a luta e o sofrimento das mulheres, eu tente encontrar um entendimento sobre como uma pessoa como ela deve ter sido – alguém com uma capacidade de cometer uma to horrível, mas sofrendo de paranoia psicótica num tempo em que se acreditava que fantasmas e "goblins" perambulavam pelas florestas à noite...

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Roni Nunes às 21:17


Comentários recentes

  • Cleber Nunes

    Sem dúvida é um filme que me despertou interesse ...